As árvores ligam o solo com o céu. A terra com nuvens. Elas favorecem a chuva. E respiram o dióxido de carbono (CO2) que libertamos. Graças aos seus ramos imponentes a temperatura ambiente é mais constante e o nosso planeta é mais habitável. Elas mantêm a erosão sob controle e constroem um ambiente confortável para nós humanos vivermos.
Elas são a nossa casa. Como disse Herman Hesse “quando aprendermos a ouvi-las, vamos sentir-nos em casa”.
Árvores como sopro de vida
Todas as culturas da Humanidade fazem, de alguma forma, referência às árvores. Têm sido um templo para os homens, um lugar de encontro, de discussão, de oração, de celebração e de aprendizagem. Para além deste papel fundamental na nossa vida social, económica, religiosa ou cultural, hoje representam também a nossa principal arma contra as alterações climáticas.
Na Cimeira do Clima de 2023, no Dubai, pela primeira vez as negociações terminaram com um apelo claro ao abandono dos combustíveis fósseis sob rigorosas condições: acelerar a ação climática nesta década, atingir emissões líquidas zero até 2050 e fundamentar a ação na ciência.
À medida que o planeta se torne verde na proporção necessária, os efeitos podem provavelmente ser semelhantes aos do fim de toda a extração de petróleo que existe.
E é aqui que devemos explicar o papel das árvores e das oliveiras na absorção e fixação de CO2 para proteger o Planeta.
O que são emissões de dióxido de carbono, ou CO2?
O CO2 é um gás denso, incolor e não tóxico encontrado na troposfera, a camada da atmosfera mais próxima da Terra. Pode ser produzido naturalmente, por meio de incêndios florestais ou erupções vulcânicas, ou pela ação das pessoas na Terra, principalmente na indústria, que vai gerar mais gás do que deveria existir naturalmente na troposfera e causar os efeitos negativos das mudanças climáticas, especialmente o efeito estufa.
As emissões de dióxido de carbono, que nós humanos geramos, através das nossas atividades, são as principais causas do efeito estufa. Por outro lado, os benefícios das florestas nas alterações climáticas resultam da forma original como as árvores respiram – inalam dióxido de carbono através da fotossíntese e quando o respiram, não o deixam ir novamente: o gás permanece fixo nas raízes, tronco e folhas, e transforma-se em nutrientes.
Uma parte do CO2 que consomem é utilizada para alimentação, enquanto o restante finaliza o processo respiratório da árvore, transformando-o em oxigénio, que é libertado de volta para a atmosfera.
Este volume de CO2 retido pelas plantas representa uma proporção importante. Por exemplo, um quilómetro quadrado de floresta pode gerar 1.000 toneladas de oxigénio por ano.
Mas se olharmos para os ambientes urbanos os números são ainda mais chocantes. Estima-se que uma árvore de 20 anos eliminaria o CO2 emitido por um carro que percorre 20 mil quilómetros num ano.
Quando uma árvore morre, o carbono que ela capturou durante sua vida é libertado de volta para a atmosfera.
Estes dados lembram-nos a importância de termos um cuidado especial com as árvores adultas. Ainda mais quando se calcula que é preciso pelo menos uma década até que uma árvore jovem seja capaz de capturar CO2 relevante.
Dentro da floresta, as espécies mais eficientes, do ponto de vista ecológico, são o pinheiro de Alepo e o pinheiro manso, que absorvem entre 27 mil e quase 50 mil quilos de CO2 por ano.
Noutros ambientes, a acácia de três espinhos compensaria as emissões de mais de 1.500 automóveis, mais ou menos ao mesmo nível do jacarandá, que vemos muitas vezes nos jardins urbanos, ou do olmo nos ambientes mediterrânicos.
Que outros fatores ajudam a fixar e absorver dióxido de carbono (CO2) em maiores quantidades?
Outros fatores a ter em conta são, por exemplo, a idade das árvores. As mais jovens absorvem maior quantidade de dióxido de carbono e mais rapidamente porque o seu crescimento assim o exige. À medida que a árvore envelhece, atinge um estágio de maturidade em que a proporção de carbono absorvido pela fotossíntese e pela respiração ou decomposição se estabiliza e permanece em níveis médios.
No entanto, os especialistas em ecologia alertam-nos para não nos deixarmos enganar por parâmetros tão apelativos como o tipo de plantas ou o seu vigor.
Segundo o escritor e engenheiro florestal alemão Peter Wohlleben: “as nossas plantas agrícolas perderam a capacidade de comunicar acima ou abaixo do solo”, razão pela qual o autor de ‘A vida secreta das árvores’ (2015) incentiva os agricultores a “abrirem a porta” às silvestres nas suas culturas, a fim de recuperar a biodiversidade vegetal e contribuir para a melhoria na captura e fixação de CO2.
O papel do olival e das oliveiras na absorção e fixação de dióxido de carbono (CO2)
Mas este carácter robusto é um dos motivos de que os nossos olivais se podem orgulhar. Segundo dados da base de dados Pordata de 2022, em Portugal, a cultura agrícola que ocupava mais superfície era o olival com 4,1% do território nacional, seguido dos cereais com 2,3% e da vinha com 1,9%
O olival ecológico, com o seu microclima especial e a sua cobertura vegetal exuberante, guarda um subsolo denso e abrigo para uma variedade de insetos (incluindo abelhas), aves e pequenos roedores, e é palco de uma das melhores batalhas que se apresentam no nosso país na redução das emissões de carbono através da absorção e fixação de CO2.
Em 2020 a Ecovalia*, elaborou o relatório ‘Produção Ecológica Mediterrânica e Alterações Climáticas’ que afirma que o olival biológico reduz a pegada de carbono em 100% uma vez que se configura como uma floresta, com um ecossistema arbóreo, ligado entre si e vegetal, com condições muito semelhantes às da floresta mediterrânica com os seus sobreiros, azinheiras ou alfarrobeiras.
Se olharmos para os valores de CO2 captados por uma oliveira entre os 24 e os 50 anos, em princípio não poderiam competir com os geridos pelo pinheiro ou pelo sobreiro. Uma oliveira desta idade atinge 570 kg de CO2 fixo.
No entanto, dados os cenários previstos pelas alterações climáticas, outras variáveis devem ser tidas em conta, como o facto de as plantações de pinheiro em determinadas áreas não serem viáveis, devido ao seu clima ou tradição vegetal, ou o facto de que se apenas recorrermos a novas plantações de vegetação vigorosa dificilmente terão sucesso sem o cuidado da população local, muitas vezes envelhecida.
As redes que as árvores tecem para fixar CO2
Conhecer as árvores, saber como são, como se expressam e como se sentem é parte fundamental das decisões a tomar nos próximos anos.
Cientistas como Suzzanne Simard, da Universidade da Colúmbia Britânica, alertam-nos através dos seus conhecimentos e experiências para o perigo de recorrer a plantas não endémicas, não respeitando a configuração da massa vegetal ou a sua identidade e carácter peculiares. Graças a eles sabemos que as árvores partilham informações através das suas raízes. E não é só informação, mas também nutrientes, sinais de perigo e alerta e até dados sobre o ambiente e sobre si próprios. A floresta trabalha em cooperação e vive através de uma grande rede neural semelhante à nossa internet que reside no subsolo e é chamada de micorriza.
Até mesmo alguns investigadores como Frantisek Baluska, do Instituto de Botânica Celular e Molecular da Universidade de Bonn, encontraram semelhanças entre as raízes das árvores e o cérebro humano.
As árvores ajudar-nos-ão a combater os efeitos do aquecimento global, desde que as incluamos todas na missão, mesmo as espécies adaptadas à horticultura, à silvicultura ou à agricultura – os jovens e os velhos, o mais voraz e o mais estável. Elas são simplesmente a nossa casa. Basta saber ouvi-las.
Quer participar na recuperação das oliveiras centenárias e ajudá-las a continuar a absorver e fixar o dióxido de carbono?
A Apadrinhaumaoliveira.org é uma associação que já recuperou 2574 oliveiras centenárias abandonadas em Abrantes, graças ao empreendedorismo social e ambiental.
As nossas madrinhas e padrinhos contribuem, através do seu apadrinhamento anual, para continuar a recuperar as oliveiras, e assim proteger os nossos olivais e continuar a absorver e fixar todo o CO2 na atmosfera.
Junte-se para fazer parte da mudança!
*Ecovalia, Associação Profissional Espanhola de Produção Biológica